Uma Luz Nesta Escuridão: A História de Uma Freira de Verdade

por Hilary White (*)

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Em tempos idos, conheci uma jovem que tinha vindo à Itália para rezar perante os túmulos dos santos a fim de suplicar a intercessão deles para um projeto que ela sentia ser um chamado de Deus. Ela chegou à velha cidade vestindo – e espero que o faça para a vida toda – um hábito azul e branco que a tornava, não por acaso, uma verdadeira sósia da Santíssima Virgem Maria. Eu posso atestar que aquilo chamou a atenção.

Àquela tarde eu estava matando tempo, como de costume, na cervejaria dos monges, de bobeira na portineria, jogando conversa fora e sendo admoestada pelo Ir. Inácio. Essa jovem freira entrou e pediu que lhe mostrassem a cripta da Basílica de São Bento, a antiga capela subterrânea que foi, originalmente, o lar dos gêmeos Bento e Escolástica.

Depois que ela voltou, com aquele brilho no rosto que as pessoas geralmente têm após essa visita, eu me ofereci para guiá-la um pouco pela cidade e mostrar algumas vistas. Na verdade, a minha curiosidade jornalística estava a mil; ali estava um hábito que eu jamais vira, cuja história subjacente eu ardia para conhecer.

Descobri, então, que esta irmã americana tinha sido uma Clarissa na comunidade Madre Angélica, mas tinha sido convocada e encaminhada para que fundasse uma nova comunidade sob os auspícios de um bom bispo americano, que desejava ter irmãs bem visíveis em sua diocese, como testemunhas. Testemunhas do quê? Basicamente, como disse Sam Gamji, de que sobrou algum bem no mundo, e por ele vale a pena lutar. Uma visão como essa jovem freira, vestida como estava, é como uma forte luz brilhando subitamente na escuridão, reconhecível até mesmo por aqueles que já esqueceram completamente os nomes de Cristo e de Sua Mãe imaculada.

A visita dela foi no verão, e naquela cidade há um festival de música todo verão. Muitas igrejas antigas, trancadas o ano inteiro (por ordem do bispo), são abertas para serem usadas como locais de show. Bem próxima à basílica está a capela de São Lourenço, construída no século V e considerada o local de batismo dos santos gêmeos em 480. A irmã se deliciou com a visita a este lugar sagrado, mesmo não sendo usado para Missas há décadas.

Quando chegamos, obviamente o hábito da irmã chamou a atenção de todos. Um dos coordenadores se aproximou e se apresentou, perguntando se ela sabia tocar. Quando ela respondeu que não apenas sabia tocar, mas tinha composto uma canção em honra a Nossa Senhora, foi de pronto conduzida ao piano. Eu me sentei e escutei, observando minuciosamente a reação do povo que era evidentemente todo leigo e de fora. Era como se estivessem vendo uma criatura mágica, um ser lendário, vindo de tempos antigos e praticamente esquecidos, que ganhava vida.

Depois que a irmã terminou de tocar e cantar, e já estávamos de saída, o educado coordenador nos acompanhou até a porta e agradeceu-a mais uma vez. No último instante, e com muita relutância, ele perguntou: “Não se ofenda com a minha pergunta, mas você é católica?” A irmã, obviamente surpresa, respondeu: “Ora! Sim, claro. Sou uma freira católica.” O homem ficou envergonhado e disse: “Bom, minha mãe é católica…”

Durante o passeio pela cidade, a irmã me contou sobre as origens de sua comunidade, sobre a necessidade de um catolicismo visível nos campi das universidades americanas. Depois de décadas de padres e freiras incógnitos, os jovens precisavam ver que ainda havia fiéis. Com a impressão que ela tinha causado nos italianos jovens, sofisticados e neo-pagãos, quem seria eu para discordar? E para mim era óbvio que ela tinha vocação para esta obra, que era muito simples: ser visivelmente católica, uma das obras espirituais de misericórdia. Mais tarde eu encontrei com prazer as duas jovens que viajavam com ela, e que pensavam em se unir à empreitada. Foi triste vê-las partir para Assis no fim do dia. Lembro de ter rezado assim: “Ah! Se houvesse mais.”

Hoje, depois de ler dois artigos, um do Steve Skojec para o One Peter Five, sobre o “grupo de estudos” encarregado de “examinar” a “história” da Humanae Vitae, e outro do Chris Ferrara, no Remnant, dando os nomes dos homens que o papa Francisco juntou em volta de si para promover a agenda gayzista na Igreja, eu me peguei recapitulando aquela tarde com a Irmã, meio assustada, como numa espécie de sede ardente. A comparação entre as duas imagens não tinha como ser mais gritante: é o contraste entre a verdade, a beleza e a bondade representadas por aquela freirinha e uma anti-Igreja inimiga da realidade, repugnante, desonesta e maligna que agora se deixa conhecer em Roma.

Esses malandros e trapaceiros do Vaticano, gente mesquinha, toda sorridente, medíocre, com as mentes minúsculas e indecorosas escarafunchando freneticamente suas fantasias de poder, dinheiro e sexo, não têm nada para oferecer ao mundo que o mundo já não tenha demais. Apenas se uniram ao mundo e se atiraram de cabeça em suas buscas chatas e monótonas. Na verdade, desde a eleição deste papa, já ficou evidente que o único interesse do mundo nessa gente é vê-los no inacreditável espetáculo de traição aberta à Fé e ao seu divino Fundador. No mínimo nós podemos dizer que o mundo, ignorante, simplesmente jogou fora a pérola de grande valor; esses homens, conhecendo o seu valor, venderam-na em troca de algumas noites num bordel de quinta categoria – uma especialidade germânica.

Pense, por um instante, nas prioridades da atual cabala que está no Vaticano. Em primeiro plano, como lembrou, dia desses, o nosso amigo Chris, temos o assalto sistemático ao sexto mandamento. O ponto central do pontificado de Francisco, e certamente o que mais ficará para a história, é a promoção do adultério como estilo de vida moralmente legítimo, triunfo de última hora de toda a obra do Walter Kasper. Depois – era inevitável – temos prelados como Bruno Forte, Joseph Tobin, Reinhard Marx, Christoph Schonborn, James Martin et al logo na esteira, exaltando a sodomia e marcando o início da Igreja da Bichice Sagrada, um objetivo que já parece estar sendo vivido com muita animação pelos minions dos colaboradores mais próximos do papa.

No lado financeiro das coisas, temos o antigo chefe dos Frades Franciscanos Menores, procurado pela Interpol devido a um escândalo financeiro monstruoso, suspeito de desfalcar a ordem numa escala épica. Esta foi uma das primeiras indicações de Francisco, um homem que ele encarregou de cuidar de todas as ordens religiosas da Igreja, e cuja primeira tarefa foi tentar saquear – em cerca de 30 milhões de euros – as contas bancárias das associações leigas dos Frades Franciscanos da Imaculada. Pouco tempo depois, tivemos uma fraude similar – um assalto, na verdade – aplicada contra os Cavaleiros de Malta, num montante mais ou menos igual, segundo os relatos. E antes de imaginarmos que as duas frentes de batalha são distintas, lembramos que a facção vitoriosa no escândalo dos Cavaleiros de Malta foi inicialmente flagrada distribuindo camisinhas para prostitutas na Ásia. Além disso, eu sei que estão para sair informações mais horríveis ainda a respeito das trapaças financeiras no Vaticano.

Será que eu preciso recitar a ficha corrida inteira? Toda ela é mais ou menos composta desses dois mesmos temas. Pelo menos até chegar ao topo. Com o próprio Francisco a coisa fica mais pessoal. Fervilhar e chapinhar em busca de dinheiro e carne não é com ele. Nos últimos anos ele deixou claro que seu interesse é mais puro: poder. Para obter e manter o cargo que, na realidade, é o mais poderoso da Terra, ele usou esses homens e seus objetivos inferiores. A julgar pela interminável torrente de invectivas blasfemas que ele lança contra as coisas sagradas, a meta do papa Francisco Bergoglio é bem mais alta do que as daqueles homens que ele ajuntou ao redor de si.

Na verdade, provavelmente foi isto que fez mais cócegas nos ouvidos do mundo, o mundo que odeia Deus. A única coisa a tornar este papa tão notável foi, e continua sendo, a interminável torrente de imundície – heresia, blasfêmia, insultos à fé, à Igreja, a Deus, ódio explícito aos católicos fiéis – que se despeja diariamente, como uma saída de esgoto, de sua boca. Ele delicia um mundo que já odeia a fé e os fiéis com suas intermináveis expressões de solidariedade a ele e a tudo que ele mais preza; ele pensa como o mundo pensa, e o mundo o adora por isto.

Os secularistas e aqueles que odeiam a fé – inclusive os que ainda se auto-denominam católicos – acompanham de perto todas as suas ações e decisões como governante da Igreja, as quais consistem em derrubar, um a um, na base da picareta, os bastiões (e tentativas de reforma) que os dois predecessores imediatos colocaram para escorar o edifício já meio em ruínas.

Mesmo sem nunca ter lido qualquer coisa que Francisco disse, uma pessoa fica sabendo muito a partir das suas indicações: homossexuais famosos, estelionatários, simoníacos, fraudadores, marxistas, hereges descarados e homens que abominam as tradições de fé. Estando agora mais ou menos completos os seus ataques aos ensinamentos da Igreja em matéria de casamento e sexo, começamos a descobrir, pelo mecanismo usual de rumores “vazados”, que o próximo alvo é a liturgia. Os tais jornalistas “católicos de esquerda” já regurgitam, felizes, todas as pistas, ao mesmo tempo em que fustigam os tradicionalistas e conservadores com acusações de “teorias da conspiração”.

Sabemos, de pessoas que lidaram com ele no passado sul-americano, e que também testemunham o comportamento atual, que ele é um colecionador de informações sobre homens com grandes segredos, um manipulador que não hesita em simplesmente destruir os adversários. Seu amor pela ambigüidade, esquiva e confusão é evidência de seu fingimento – até mesmo os jornalistas que mais colaboram com ele já foram flagrados chamando-o de “ladino”. Ele é um mentiroso comprovado e se cercou de mentirosos, mas a mentira, no caso de Bergoglio, vem acompanhada de uma crueldade calculada e de uma fúria vingativa e agressiva em relação a qualquer um que ouse defender não somente a antiga fé católica, mas a decência humana comum. Sua verdadeira natureza não é mais secreta, embora seja crescente a especulação sobre a verdadeira origem dela.

Para muitos, acompanhar o progresso deste pontificado é uma tarefa tão dolorosa, mentalmente e emocionalmente, quanto investigar o submundo do crime. Produz em nós o efeito de sermos triturados, aos poucos, ao mesmo tempo que consome toda a nossa atenção e os nossos pensamentos. Enquanto a atenção se fixa no absoluto horror de tudo isso se desenrolando como um pesadelo incontrolável, vai surgindo uma sensação de entorpecimento e de revolta impotente.

Aquela tarde, levei a Irmã para tomar chá e perguntei porque ela considerava fundar uma nova comunidade religiosa em tempos como este. Parecia um convite a virar alvo, num ambiente onde a verdadeira fé não era mais sequer tolerada dentro das instituições da Igreja. Eu sei a dificuldade que tiveram os fundadores de comunidades, mesmo sob os pontificados anteriores, mais benignos em comparação a este. A Irmã não era nem um pouco ingênua; sabia que os homens do Vaticano estão procurando especificamente as expressões autênticas de fé e devoção católicas, para esmagá-las.

Mas ela envergonhou a minha covardia com as respostas. “Poderia haver um tempo melhor do que este?” Simplesmente ela seguia em frente, com fé e confiança, obedecendo a uma convocação para realizar um trabalho que tinha de ser feito.

Eu já disse muitas vezes que passamos do ponto em que um ativismo mundano pode ser uma resposta proveitosa ou proporcional ao tsunami que agora despenca sobre nós. Por outro lado, é muito fácil adotar uma mentalidade de bunker, principalmente entre os tradicionalistas, já acostumados a estar separados do catolicismo “dominante”. É natural a vontade de sair em disparada e se esconder, de abaixar a cabeça e esperar a tempestade passar. E aí é que está justamente o problema, claro, porque é o naturalismo que alimenta toda essa catástrofe.

Ali estava aquela jovem freira, sabendo de tudo isso e demonstrando um heroísmo que agora, na verdade, é mero requisito. Jogando-se de cabeça numa causa que, para o senso natural, parece perdida de antemão. Nós procuramos um jeito de tirar isso da cabeça. Queremos fazer algo, mas enfrentamos a probabilidade de não haver nada adiante exceto destruição. Esperamos que um bispo ou cardeal venha galopando no último instante e salve tudo. Percorremos os nomes do Colégio de Cardeais na tentativa de encontrar alguém que nos salve no próximo conclave. Qualquer coisa, menos encarar a terrível possibilidade de que ninguém está vindo; que já fomos longe demais, e que não resta mais refúgio algum.

Diante de nós está um vale de sombras tenebrosas, e não temos outro caminho. Nós, porém, não dizemos “tragédia” da Cruz, ou “derrota” da Cruz; nós dizemos Triunfo da Cruz, Vitória da Cruz.

* Hilary White é uma jornalista canadense que mora em Núrsia, na Itália. O artigo original foi publicado no jornal católico “The Remnant” em 3 de agosto de 2017. Tradução: André Carezia.

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